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Versão Brasileira (Por Juliana Calderari)

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marcos.sutta

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Para aqueles que ainda nem sonhavam com a TV a cabo, a frase que titula esta matéria será bem familiar. Dita antes do início de cada filme ou programa veiculado em TV aberta, ficou muito marcada por apontar o estúdio responsável pela dublagem da versão em português. “Versão brasileira, Herbert Richers” é, provavelmente, a mais conhecida e leva o nome de seu fundador, falecido no dia 20 de novembro, aos 86 anos. Richers, no entanto, nunca dublou. O araraquarense, que se tornou produtor de cinema, começou sua carreira aos 17 anos, como operador de câmera.

A sorte sorriu para Herbert ao conhecer Walt Disney, que viera filmar no Brasil em 1943. Foi o americano que aconselhou o câmera a mudar de profissão e a se aventurar no ramo da dublagem. “Ele [Disney] falou: ‘Você tá é perdendo tempo. O grande negócio é a televisão’”, disse Richers em entrevista concedida à Folha Online, em 20 de novembro de 2009. O brasileiro seguiu a orientação e fundou, no Rio de Janeiro, a Herbert Richers S.A., um dos maiores estúdios da América Latina até os dias de hoje.

OS ESTÚDIOS BRASILEIROS

Na mesma época, no Rio de Janeiro, o espanhol Carlos de La Riva fundou a Rivaton com sonhos de produzir cinema brasileiro. Mas a ditadura dificultando o trabalho de cineastas e produtores, a Rivaton sobrevivia da dublagem de desenhos da Disney, como Dumbo, e também da dublagem de filmes nacionais, que tinham suas vozes colocadas posteriormente às gravações das imagens.

Já a “versão brasileira, AIC São Paulo” dava os créditos para o estúdio Artes Industriais Cinematográficas, de São Paulo. Fundada em 1958 com o nome de Gravasom, tornou-se AIC na década seguinte. Lá, foram dublados dezenas de desenhos do estúdio Hanna Barbera, como Zé Colmeia e Mandachuva, e séries, como Jeannie é um gênio e A feiticeira. Em 1975, a AIC faliu e foi vendida – hoje, o estúdio é conhecido por BKS.

Enquanto a AIC entrava em declínio, o inglês Michael Stoll fundava o estúdio Álamo, em 1972. Segundo seu filho, Alan Stoll, Michael veio para o Brasil em 1950 com um grupo de ingleses para trabalhar na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, como técnico de som. Entre os colegas de Michael, estava o câmera Herbert Richers. Como a Vera Cruz não prosperou, o inglês foi para São Paulo e abriu seu estúdio de dublagem.

O PROCESSO DE DUBLAGEM

“Tudo era dublado naquela época”, conta a atriz de dublagem Cecília Leme, que começou sua carreira em 1969. A tecnologia ainda pouco desenvolvida da época fazia com que todos os programas, até mesmo comerciais, tivessem que ter as vozes colocadas após as gravações. “As câmeras e os equipamentos usados para gravar os programas eram muito barulhentos, por isso, até os comerciais eram dublados”, lembra.

“Antes de existirem os computadores, era necessário que os estúdios tivessem equipamentos específicos, como o U-Matic”, diz Edeli Cremonesi, representante do estúdio Centauro. O aparelho que Edeli cita fazia parte do equipamento básico de edição eletrônica e facilitava bastante o trabalho dos estúdios de dublagem. Também era necessário que a fita do filme fosse enviada para o Brasil e que os dubladores gravassem suas falas juntos, o que demandava mais tempo. Atualmente, os arquivos com o conteúdo a ser dublado ficam disponíveis online. Com o material em mãos, tradutores fazem a versão em português para o áudio e para as legendas. Se você domina uma língua estrangeira, já deve ter notado que, muitas vezes, a tradução de ambos não é exatamente a mesma do original. E não é por má vontade ou incompetência dos tradutores. “A tradução tem de ser menor, porque senão não cabe na cena. O sentido não muda, porém a tradução é diferente”, explica Cremonesi.

Quando o texto no novo idioma está pronto e revisado, o filme ou programa é cortado em frações de 20 segundos, chamadas de anel ou looping. Com os anéis, os estúdios montam um mapa que mostra onde cada personagem aparece. O material cortado e mapeado chega às mãos do diretor de dublagem, que vai escolher os dubladores de cada personagem. No estúdio, o diretor dá as diretrizes para cada ator, enquanto um técnico de som cuida da gravação. Depois de gravadas as falas, o último passo é mixar as vozes com a música e efeitos originais dos filmes.

TAREFA PARA POUCOS

“Há cerca de 150 dubladores no Rio de Janeiro e uns 150 em São Paulo”, afirma Alan Stoll, filho do fundador dos estúdios Álamo. Para trabalhar na profissão, é necessário ter DRT: registro de capacitação profissional para atores e atrizes. Mas não é só isso. “É preciso ser bom ator, fazer escola de arte, curso de impostação de voz e passar por uma fonoaudióloga para tirar defeitos e vícios”, diz Gilmara Sanchez.

Gilmara começou na AIC São Paulo aos 11 anos. Trabalhou como atriz nas extintas TV Excelsior e Tupi, foi jurada do Silvio Santos e, atualmente, é dubladora e diretora de dublagem. “Já tinha experiência, porque, na época, o ator dublava, fazia tudo”, lembra.

Assim como Gilmara, a atriz de dublagem Cecília Leme começou em 1967, ainda criança. “Minha mãe era muito criticada, pois naquela época as pessoas achavam que gente que trabalhava na televisão não prestava”, conta. Após atuar no filme A marca da ferradura (1968), de Tonico e Tinoco, a pequena Cecília, aos 9 anos, descobriu que sua voz seria substituída pela de uma dubladora profissional. “Comecei a chorar, porque ia ver o filme no cinema com minhas amiguinhas e não ia ser minha voz!”, diverte-se.

Cecília conseguiu tocar o diretor e lhe deram a chance que ela não desperdiçou. Cecília foi a dubladora oficial da personagem Chiquinha, do seriado mexicano Chaves, e da babá Fran Fine, do seriado americano The Nanny. Também deu voz a atrizes hollywoodianas, como Meg Ryan, Sharon Stone e Sandra Bullock.

Hoje, com 40 anos de experiência, ela diz que a principal dificuldade para muitos atores é conseguir uma performance mais próxima à da versão original. “Diferentemente do ator que cria, você vai ter de fazer como está feito lá. Não tem essa de não choro desse jeito, não dou risada desse jeito. Chorar do seu jeito é muito fácil, mas chorar como o filme está mandando é outra coisa.”

OS ESCOLHIDOS

Para tentar manter a dublagem mais próxima do original, o diretor deve escolher os atores que farão as vozes em português. “Tem de ser cuidadoso, se não, um filme que um ator demora dois anos para fazer, você estraga em meia hora”, diz Gilmara. Por isso, estrelas como Julia Roberts e George Clooney costumam ter seu dublador oficial, conhecido no meio por “boneco”. “Se trocar, o público vai sentir”, explica a diretora. Manter a mesma voz, entretanto, nem sempre é possível, pois o dublador pode não estar disponível ou o próprio cliente faz outra escolha. “Às vezes, o dono do produto acha que é melhor ter outra voz. E, quando o ator e a atriz têm vozes diferentes, procura-se fazer o mais similar possível”, afirma Stoll.

Para entrar no clima do original, cada um tem sua estratégia. Alguns se concentram na frente do microfone e quase não se mexem. Outros usam o corpo como se estivessem em cena. É o caso de Manolo Rey, que dublou Will Smith na série Um maluco no pedaço. Como o brasileiro tem uma voz diferente da que tem o ator americano, Rey copiava os movimentos de Will para entrar em sintonia. “Na hora de dublar, eu fazia os movimentos parecidos com os que ele fazia”, conta.

"TE CONHEÇO DE ALGUM LUGAR..."

Se o cartão de visitas de um ator de TV ou cinema é o rosto, no caso dos atores de dublagem, o reconhecimento vem pela voz. Rey, que além de Will Smith dublou os três filmes do Homem-Aranha, já foi reconhecido em lojas e restaurantes. “Às vezes, eu peço: ‘Me vê um hambúrguer’, e as pessoas ficam me olhando.”

O mesmo acontece com Cecília Leme, por causa da personagem Chiquinha. “Estou conversando com alguém e a pessoa fala: ‘Eu te conheço de algum lugar’ ou ‘Já te vi na televisão’. Respondo: ‘Não me viu, mas já me ouviu’. A pessoa acha que me conhece pelo rosto, mas é pela voz”, diverte-se. Outras vezes, porém, o que acontece é o oposto. Ao assistir a um filme ou desenho, o espectador fica com a sensação de que conhece aquela voz. É bem provável que seu dono seja um astro de cinema ou de telenovelas. A tendência surgiu nos EUA nos anos 1990. No desenho Formiguinhaz, por exemplo, foram usadas as vozes de Sharon Stone e Woody Allen. Dez anos depois, a animação Kung fu panda trouxe Jack Black e Dustin Hoffman no elenco. No Brasil, o mesmo aconteceu. Daniel Filho foi escalado para dublar Doc Hudson, na animação Carros, e Juliana Paes assumiu o lugar de Angelina Jolie, na versão brasileira de Kung fu panda, entre outros.“Quando o cliente quer, a gente traz o ator famoso. Mas eles geralmente têm dificuldade com a velocidade do trabalho. Ele demora mais e o diretor tem de trabalhar a sincronização”, afirma Cremonesi. Essa pessoa vai ser chamariz para o negócio. Mas também pode depor contra, porque a técnica da dublagem é diferente. “Às vezes, você tem uma pessoa famosa gravando um personagem junto com outras que são especialistas e a diferença fica clara no resultado”, diz Alan Stoll.

O preço para atrair o público para os cinemas também não é o mesmo cobrado pelos dubladores. Enquanto um profissional que dá voz ao protagonista de um filme ganha cerca de R$ 3.700 para doze horas de trabalho, o cachê de um star talent brasileiro pode variar entre R$ 10 mil e R$ 30 mil. “As pessoas acham que eles ganham mais porque são famosos, mas, na verdade, ganham mais porque trabalham mais. Eles são pagos para dublar e divulgar o filme”, explica Manolo Rey, sem rancores.

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