Animes X Games
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Animes X Games

Forum do Site: http://www.animesxgames.com ^^


Você não está conectado. Conecte-se ou registre-se

A Estética do Trash (Por André Sollitto)

2 participantes

Ir para baixo  Mensagem [Página 1 de 1]

marcos.sutta

marcos.sutta
AxG Premium
AxG Premium

Produções baratas e inventivas, durante mto tempo consideradas inferiores, tornaram-se um estilo cinematográfico utilizado tbém por grandes diretores.


É noite. Um barulho acorda a moça vestida de branco. Arrancada de seu sono, ela olha impotente para o homem parado em seu quarto. Ele se aproxima dela, sua sombra se avolumando na parede ao lado da cama. Com uma expressão exagerada de puro horror no rosto, a mulher gesticula e tenta se desvencilhar, mas seus esforços são vãos. A faca do homem desce sobre ela.

A mente diabólica do alemão Robert Weine foi a responsável por essa e muitas outras cenas assustadoras presentes no clássico O gabinete do doutor Caligari, de 1920. O filme foi a mais bem-sucedida criação de terror até então, mas não foi a primeira. Desde a invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, produções como Frankenstein, de 1910, procuravam assustar os espectadores, superando as limitações do cinema mudo. Os expressionistas alemães, em especial, foram muito prolíficos: além de Robert Weine, F. W. Murnau foi outro diretor de destaque, apresentando a primeira versão “oficial” do vampiro Drácula no clássico de 1922 Nosferatu.

Nos anos seguintes, atores como Bela Lugosi e Boris Karloff especializaram-se em filmes do gênero. Ambos foram imortalizados nos papéis de Drácula e Frankenstein, respectivamente, mas fizeram dezenas de filmes assustadores. Em 1934, foi fundada a Hammer Film Productions, responsável pela produção de alguns clássicos do período, como A noiva de Frankenstein, de 1935, dirigido por James Whale. A produtora lançou as bases para o que viria a ser considerado trash, mas a consolidação das características do estilo ainda estava por vir.

Ed Wood começou sua carreira em 1947, quando estava com 23 anos, escrevendo roteiros para Hollywood. Ele era um fã de revistas pulp (publicações feitas em papel barato, que reúnem contos fantásticos) e quadrinhos, além de viciado em drogas leves e álcool. Depois de chegar à conclusão de que era um diretor visionário, Wood produziu uma série de filmes autorais, como Glen ou Glenda? (uma história autobiográfica sobre um travesti heterossexual), de 1953, e sua “obra-prima”, Plano 9 do espaço sideral, de 1956, estrelado por Vampira e Bela Lugosi.

“Ed Wood foi o primeiro cineasta a usar os elementos básicos de filmes trash, como heroínas em perigo, alienígenas, monstros, humor afiado, tudo com uma produção de baixo orçamento”, explica Ubiratan Brasil, editor do Caderno 2 do Estado de S. Paulo. Em Plano 9, estão presentes as expressões exageradas do expressionismo alemão, as moças atacadas por homens altos vestidos de preto e até mesmo uma cena em uma cama bem parecida com a de O gabinete do doutor Caligari. Mas o que havia mudado?

Sem recursos, os efeitos especiais são toscos, com calotas de Cadillacs servindo como discos voadores, sustentadas por cordas aparentes, e as atuações são sofríveis. A história é mirabolante e inverossímil, mas criativa. Mesmo sem dinheiro, Wood criou um filme interessante. Estavam lançadas as bases do cinema trash.

A EXPLOSÃO DO GÊNERO

Enquanto fantasmas, possessões demoníacas e outros seres incorpóreos protagonizaram clássicos do suspense e do terror, como Poltergeist, de Tobe Hooper, O exorcista, de William Friedkin, e A profecia, de Richard Donner, os zumbis e outros monstros acabaram se distanciando do cinema “sério” e ficaram associados ao cinema trash. George A. Romero não foi o primeiro a tirar os defuntos de suas covas, mas estabeleceu os paradigmas dos filmes de zumbis com sua série pouco inventiva em termos de nome, mas revolucionária pela criação de um subgênero: A noite dos mortos vivos, Madrugada dos mortos e Dia dos mortos.

A partir daí, cineastas sem dinheiro e com ideias na cabeça começaram a produzir suas obrasprimas: Russ Meyer e o início do exploitation, gênero famoso pelo abuso do erotismo, com sua combinação matadora de violência, mulheres bonitas e carros rápidos em Faster, Pussycat – Kill! Kill!, Bo Arne Vibenius, com sua pérola sobre vingança, o chocante Thriller – A cruel picture, que explorou o sexo explícito pela primeira vez, e as peripécias de Ilsa – She wolf of the SS, de Don Edmonds, uma médica nazista que expõe suas prisioneiras a provações extremas apenas para provar que o sexo feminino é mais resistente à dor que o masculino. Tudo com o objetivo de chocar o espectador e levá-lo a um mundo diferente da mesmice de comédias românticas, filmes de faroeste e outros padrões estabelecidos pela indústria hollywoodiana.

Em 1974, Lloyd Kaufman e Michael Herz fundaram a Troma, maior produtora de filmes trash até hoje. Kaufman juntou atores baratos, efeitos pouco especiais, maquiadores meias-bocas e criou um clássico do gênero: O vingador tóxico, cujo personagem central, um nerd que se transforma em monstro ao cair em um tanque cheio de substâncias radioativas tornou-se símbolo da produtora.

Mas nem só de escatologias viveu o cinema trash. O italiano Ruggero Deodato criou uma das obras mais assustadoras e impressionantes já feitas: Holocausto canibal. Além de ser o precursor dos mockumentaries (falsos documentários), o filme, produzido com uma pequena, porém talentosa equipe, mostrava um grupo de jovens documentaristas que acabam devorados por canibais. Animais foram mutilados e mortos de verdade durante as filmagens, tudo para chocar ainda mais o espectador. Uma produção de custo reduzido, mas brilhante pela inovação e ousadia.

SUPERPRODUÇÕES

Hoje, o trash perdeu sua principal característica, o baixo custo, para se tornar uma estética cinematográfica. “Há algum tempo, os diretores tinham pouco dinheiro para fazer filme. Com isso, o compromisso de gravar um sucesso de bilheteria era mínimo. Agora, a história é diferente: os diretores pegam alguns elementos dos antigos filmes trash e criam grandes produções, repletas de efeitos especiais”, revela Luiz Guilherme Inhesta, vendedor da Livraria Cultura da Paulista, que assina coluna sobre cinema na intranet da empresa.

A dupla Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, por exemplo, dirigiu Grindhouse, uma homenagem às antigas salas de cinema onde o espectador pagava o preço de um ingresso e assistia a duas produções: neste caso, Tarantino ficou com Death proof e Rodriguez, com Planeta terror.

O lendário diretor George A. Romero também voltou à ativa e já está produzindo Survival of the Dead, terceiro filme sobre zumbis desde seu retorno em 2005. Jay Lee apresentou As strippers zumbi, um grupo de dançarinas devoradoras de carne liderado pela estrela pornô Jenna Jameson, e o alemão Tommy Wirkola filmou o divertido Dead Snow, sobre um bando de mortos-vivos nazistas.

Essa série de exemplos prova que o cinema trash se tornou gênero específico. “Com o desenvolvimento tecnológico, foi possível conceber filmes trash na essência, mas com orçamento já não tão baixo, pois o público consumidor (jovem em sua maioria) não aceita pobreza técnica com facilidade”, conclui Ubiratan Brasil.

TERROR TUPINIQUIM

O Brasil também produz bons filmes de terror. José Mojica Marins foi o pioneiro na arte de assustar: depois de criar o personagem Zé do Caixão, protagonista da trilogia À meia-noite levarei sua alma, Esta noite encarnarei no teu cadáver e Encarnação do demônio, ele disseminou a vontade de fazer filmes chocantes entre os brasileiros.

“Temos que fazer um terror nosso, terror tupiniquim, mais próximo da nossa realidade. Nada de vampiros, lobisomens ou múmias, que são criações estrangeiras. Temos um folclore riquíssimo, com a macumba e outros elementos capazes de gerar boas histórias”, aponta o diretor, que também se tornou cult nos EUA, onde é conhecido como Coffin Joe.

Ivan Cardoso é outro brasileiro responsável por filmes puramente trash: misturando terror e comédia, ele criou o gênero terrir. Produções como O segredo da múmia, As sete vampiras e o recente Um lobisomem na Amazônia abusam da violência, do erotismo e de situações improváveis para garantir um misto de sustos e risadas.

¤ Miyu ¤

¤ Miyu ¤
AxG Premium
AxG Premium

Interessante essa matéria.

Essa matéria faz alusão ao Cinema Novo e como dizia Glauber Rocha ''Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça".

Hoje em dia sabemos que não é bem assim.
Eu memsa quando vou ao cinema fico irritada quando exageram muito nos efeitos especiais deixando claro aquele ''ar de coisa artificial'' mas também fico descontente quando deixam de colocar efeitos especiais em cenas que seriam muito bem vindas e que dariam um 'up' no filme ^.^' Mas tenho que concordar com Ubiratan, os consumidores nunca estão satisfeitos o.o'

Ir para o topo  Mensagem [Página 1 de 1]

Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos